As coisas que não couberam 415qz

A gente se perde tentando caber nos outros — e se encontra quando começa a abrir espaço para si 4c181
Ninguém vê o que a gente esconde para caber. O que a gente engole, dobra, silencia. Tem partes nossas que foram ficando pelo caminho, porque não encaixavam, porque incomodavam, porque eram demais para alguém. E, aos poucos, a gente vai se apertando em versões menores de si mesmo, tentando fazer parecer que está tudo certo.
Mas não está. Porque tem um custo. E o preço de não caber inteiro é alto. São pedaços que doem por dentro, sentimentos que a gente trancou, palavras que ficaram entaladas. São vontades abortadas antes de nascer, sonhos empurrados para depois, e um depois que nunca chega.
As coisas que não couberam foram ficando em gavetas internas, que vez ou outra se abrem sozinhas. E aí transbordam em forma de angústia, ansiedade, crises sem nome. É o corpo avisando que tem partes dele que você abandonou. E que agora, doem.
Ninguém devia precisar diminuir o próprio brilho para não ofuscar alguém. Ninguém devia se calar para manter a paz. Ninguém devia ter que se apagar para ser amado. Mas a gente faz. Por medo de rejeição, por carência, por amor mal compreendido. Até perceber que, no fim, o que não coube em alguém pode ser exatamente o que te faz ser quem é.
As coisas que não couberam merecem espaço. Merecem luz. Merecem perdão. Não dá parte do outro — mas da nossa. Perdão por ter escondido tanto, por ter fingido tanto, por ter se esquecido de si. Ainda dá tempo de recolher cada parte deixada para trás e dizer: agora você pode ficar. Agora você cabe.
